sábado, 7 de novembro de 2015

Depressão

(fotografia representativa por Victoria Ferreira e pintura por Beatriz Luz)

     Eu via (ou ouvia sobre) gente chorando, cortando os pulsos, suicídio. Não entendia aquilo, não entendia porque as pessoas precisavam de tudo aquilo. Achava que era pra chamar atenção, fazer drama, ou simplesmente não entendia. Não entendia porque uma pessoa desistiria de sua vida, parecia outra realidade, outro mundo.

     A única coisa que eu pensava naquelas noites tentando dormir era “o que é que está acontecendo comigo?”. Acabara de voltar de viagem, direto para as aulas, um sentimento enorme tomava conta de mim. Por uma semana eu esperei, chorando todas as noites até dormir. Sentindo falta das férias? Da diversão? Da viagem? Ansioso pelo meu ultimo ano na escola? A verdade era que nada daquilo explicava um sentimento tão intenso, e eu me perdia nos dias tentando entender aquilo.

     Os dias eram mais longos e as noites mais escuras, o mundo parecia parado à minha volta, cinza, artificial. Sorrisos eram difíceis de sentir. Eles estavam lá, claro, eu os via passar, mas não os entendia.

     Procurei ajuda. Depois de semanas que pareceram anos, eu não conseguia entender, algo tinha que estar errado. O médico (psiquiatra) disse que eram sintomas de depressão, me prescreveu um remédio, conversamos sobre meus problemas, e eu voltei para casa.

     Eu ainda não estava feliz. Com a vida que eu levava, uma casa boa para viver, comida na mesa, um família incrível, uma namorada que me apoiava em tudo, amigos, felicidade, como eu podia estar sentindo aquilo? Me culpava, com tanta gente sofrendo tanto por aí, não me sentia no direito de me sentir daquela forma, eu não podia. Demorei a entender que estava doente, que aquilo tudo não era minha culpa, que talvez minha cabeça estivesse tentando me dizer algo, mesmo que eu não soubesse o que.

     Eu perdi muita coisa. Provas na escola, oportunidades de me divertir com amigos, de estudar, perdi minha segurança. Os meses se seguiram em tardes infinitas de um vazio extremo, enquanto tentávamos desesperadamente encontrar a medicação correta, que varia de pessoa à pessoa. Eu não comia, não ria, não falava. Sentia esse vazio fisicamente embrulhar meu estômago, subir pelo meu peito e apertar minha garganta. Sentia vontade de vomitar. Eu não queria admitir, mas meu corpo estava pronto para morrer.

     Todos os meus sonhos, tudo que eu gostava, tudo o que eu mais admirava, tudo o que eu queria fazer, os meus planos, nada daquilo fazia sentido, era tudo enjoativo, morto, sem sentimento, eu sabia e odiava aquilo, queria desesperadamente que fosse embora, queria dormir para não sentir aquilo, e esse fato me assustava.

     De repente, encontramos o remédio, e como num passe de mágica, o mundo voltava a fazer sentido, eu voltava a ser, bom, eu. Ironicamente mas não menos apropriado, foi assim que Zora surgiu, da esperança e para a esperança, eu voltava a acreditar em mim e voltava a acreditar no mundo, as cores voltaram. Eu estava mudado e precisava mudar o mundo, e eu sabia que tinha muita gente à minha volta que poderia me ajudar, que tinha muito potencial, e isso me animava ainda mais.

     Eu achava que depressão era frescura, não tinha sentido, e ainda quando comecei a senti-la, me recusava a procurar ajuda, achava que a culpa era minha. Depressão é uma doença e é coisa séria, se você acha que precisa de ajuda, não hesite em procura-la. Assim como seu coração precisa de um médico, sua cabeça também pode precisar de vez em quando, você pode não conseguir suportar tudo sozinho, e você pode precisar de apoio ou medicação. Tomar medicamento não é uma vergonha, assim como você pode precisar tomar remédio para a pressão sanguínea, pode precisar para corrigir alterações hormonais em seu cérebro, alterações essas que podem causar todos esses sintomas. Se você conhece alguém que se encaixa nesse perfil, também não hesite em ajuda-la e aconselha-la, toda ajuda é vital em uma situação como essa.




     Esse é o primeiro de uma série de posts que visa quebrar pré-conceitos e paradigmas, sejam esses sobre doenças, deficiências, a cor da sua pele, seu gênero, ou sua sexualidade, e que nos farão questionar sobre educação e sobre como tratamos o mundo em que vivemos.  Espero que gostem.

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