segunda-feira, 2 de maio de 2016

Registros Diários


Esses pequenos parágrafos nasceram da rotina. De uma forma despretenciosa passei a sentir o trânsito, a espera, os faróis vermelhos, ou melhor, como tudo isso me afeta. Cada dia meu corpo absorve algo de uma maneira diferente. No fim da semana, um bloco de notas cheios de mim.

Dia 1:

Passar todos os dias no mesmo lugar e quase no mesmo exato horário te trás alguns sentimentos aleatórios. Sinto que faço parte de uma pequena parte, da vida daquela pessoa que acompanho uma pequena parte da rotina. A mãe caminhando com seu bebê de colo, em um daqueles trecos que mais parecem uma bolsa de canguru, o morador de rua que sentado ao lado do farol observa o movimento e os adolescentes que esperam lado a lado o ônibus chegar. Todos os dias, no mesmo horário, no exato lugar de sempre. A rotina me fez sorrir. 

Dia 2:

Hoje, percebi a roupa que visto. Durante a maior parte dos dias só penso em cada peça que veste meu corpo no momento em que as coloco mas alguns dias são estranhos. Em alguns dias tenho a sensação de estar nua em lugares públicos e sou forçada a perceber os panos que me cobrem. Um pensamento esquisito para uma sensação esquisita.

Dia 3:

Vi desenhaste. Vi escreveste. Vi a arte nascer junto com a expressão daquele homem. Vi a arte pronta, colorindo as ruas de São Paulo. Vi as pessoas te lerem. "Homens! Deixem os assobios aos pássaros". O símbolo feminino entre as penas do pássaro que assobiava militância. A força do grafite me banha todos os dias. Nunca desista. Arte também muda o mundo. 

Dia 4:

O sentimento não é bom, nem feliz e também não é simplesmente estranho. É ansiedade. Coisas demais, acontecendo rápido demais, alto demais. Vejo muita gente na rua, ouço buzinas exageradas, muitas vozes se misturando a música alta no rádio. Um doce, dois doces, três doces. Ocupo minha boca antes que as unhas encurtem e as bochechas criem feridas. Respira fundo, presta atenção no som que seu corpo faz ao respirar, fecha os olhos, desacelera. Isola. Respira. De novo. Acalma. Mais uma vez.


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