sábado, 27 de junho de 2015

  Talvez um dia

  O Homo Sapiens, ser mais evoluído do planeta Terra. A semelhança entre os diferentes seres humanos é gritante. Temos os judeus e os islâmicos, por exemplo, ambos acreditam em uma força ou energia maior, acreditam em um profeta, assim como os cristãos. Temos os negros e os brancos, os gordos e os magros, os fortes e os fracos, uns usam óculos, outros cadeira de rodas, alguns deixam o cabelo crescer, outros não gostam de pelos pelo corpo. Uns gostam de homens, outros de mulheres, alguns apreciam os dois. E de que isso importa? Apesar de tudo isso, por dentro somos quase 100% iguais, e só não somos porque não daria certo, precisamos de diferenças pois precisamos que cada um cumpra um papel específico para que possamos sobreviver juntos. De que adianta um engenheiro se não houverem pedreiros para construir ou vice-versa? No fundo, a sociedade é exatamente como o corpo humano, somos todos pequenas partes que formam um só organismo organizado, cada um de nós é uma pequena célula com uma função, e precisamos uns dos outros para sobreviver em harmonia. Mas algo no caminho deu errado, em algum lugar, certos seres humanos quiseram tomar o espaço de outros, e conflitos começaram. Em um corpo, chamamos isso de câncer.

   Uma equipe de pesquisadores observou um grupo de gazelas por alguns meses, e perceberam que enquanto pastavam, alguns animais levantavam e apontavam a cabeça para uma direção, estavam com sede, e apontavam para a poça d’água mais próxima. Diante de todas as situações, quando o numero de gazelas apontando para a poça chegava a 51%, as gazelas começavam a andar em direção a poça. Nem tão rápido, para que os mais fracos pudessem acompanhar, e nem tão devagar, para não ficarem expostos aos predadores. Isso é uma democracia, onde todos participam em todas as decisões, e não onde todas elegem um representante que faz todas as escolhas, pois isso lhe da poder, e todos devem ter o mesmo poder dentro de uma sociedade democrática.

   Então o que deu errado? Por que apesar de ainda estarmos aqui não conseguimos viver em harmonia? Primeiro precisamos considerar que existem dois fatores para a formação de uma mente humana e de seu comportamento, a sua genética, e suas experiências na vida. Temos que começar no tempo em que ainda não sabíamos falar, não tínhamos um smartphone, e nosso único objetivo na vida era comer, beber e acasalar. A sociedade primitiva criou, por meio de necessidade, um mecanismo para que só os seres humanos mais fortes pudessem acasalar e ter descendentes, e os machos disputavam a vaga de dominador para ser o sortudo que teria todas as fêmeas. O vencedor era o fisicamente mais forte, e poderia levar sua genética à frente, e garantir assim, maior possibilidade de sobrevivência da espécie. Talvez seja aí que tenhamos criado o maior problema da humanidade. O poder. Sem querer, criamos uma estrutura onde o fisicamente mais forte era o que tinha o maior poder, e esse poder se alastrou, o mais forte comia primeiro e comia mais, não se esforçava tanto, dormia no melhor lugar, e tinha todos os privilégios.

   O ser humano evoluiu, agora somos inteligentes, construímos enormes prédios, selvas de concreto, pontes, robôs, a televisão, o radio, fomos ao espaço, conhecemos bilhões de estrelas, descobrimos o DNA, podemos fazer um transplante de coração, e conseguimos clonar uma ovelha. Ainda assim, passamos por duas guerras mundiais, destruímos nossas florestas, nosso planeta está esquentando, e nosso lixo aumentando. Ainda assim, até em países desenvolvidos, vivemos uma falsa democracia. Tudo isso porque o poder agora não é do fisicamente mais forte, e sim do mais inteligente, ou com mais dinheiro. A busca instintiva por poder é o que afunda cada vez mais a raça humana.

   Eu diria que, nossa harmonia social foi perdida à medida que nossa evolução foi parcial, e que, apesar de desenvolvermos tecnologias e ideologias de sociedades ideais, muitos de nossos instintos primitivos que buscam poder ainda se fazem presentes em nosso corpo, instintos que já não mais condizem com a estrutura social que formamos ou pretendemos formar. Então, porque certos seres humanos, apesar de todos nós apresentarmos os mesmos instintos, são mais socialmente colaboradores e democráticos e parecem ignorar esse instinto de tentar obter poder? Simples, porque como dito anteriormente, a mente humana é formada por dois ramos, a genética (que traz os instintos), e as experiências, que trazem o aprendizado. Então é sim possível que um ser humano, mesmo que tenha nascido com o instinto de obter poder (que surgiu na necessidade de transmitir seus genes), possa aprender a viver em uma sociedade onde apesar das diferenças físicas ou mentais, o respeito seja mútuo e de mesma intensidade, assim como o poder. Isso é o que chamo de evolução por educação, ou seja, já que nossos instintos não mais condizem com nossa estrutura social, eliminamos os que não nos servem mais através do outro processo da formação da mente, a experiência, a educação, seja por meio dos responsáveis, ou por meio de instituições.

   Hoje, a maioria das escolas, instituições, ou até mesmo os pais, criam os filhos em um sistema de competição, preparam os filhos e as crianças para serem os melhores, e deixarem os outros para traz. O sistema de notas, as competições, o vestibular, a concorrência de empregos e a própria economia são exemplos disso. Alunos não se interessam por matérias na escola e tem razão, elas são apresentadas como meio de subir, e não como uma curiosidade, não como uma maneira de descobrir o mundo, e o mundo e fascinante em cada canto. Se cada matéria fosse apresentada de forma com que quiséssemos descobri-la, e não jogada toda pronta em nossa cara, a chance de nos interessarmos por elas seria astronomicamente maior. Talvez Newton odiasse estudar suas leis da forma com que estudamos, com certeza não tem o mesmo fascínio que ele teve ao descobrir aquilo tudo, “o prazer da incógnita” como dizem Rubem Alves e Gilberto Dimenstein. O conhecimento e o aprendizado real vêm da contestação e da discussão sobre idéias previamente criadas pela observação sobre situações.
   
  Será que não temos espaço suficiente para todos? Como podemos abrir os olhos da sociedade e mostrar que entendemos tudo errado, e que estamos no caminho errado? Como mostrar que o pensamento crítico e a educação são a única saída para a evolução a uma sociedade equilibrada, se as pessoas não possuem o pensamento crítico para interpretar isso? Ironicamente, nosso maior problema pode ser nossa única saída.

  Apresento-lhes a teoria do individualismo mundial. Olhando a história, podemos perceber que os humanos tendem a se reunir contra um problema em comum, a favor da sobrevivência. Assim, se paulistas são ameaçados por cariocas, se juntam para enfrentar os cariocas, apesar dos paulistas terem suas próprias desavenças entre si. Assim como cariocas e paulistas se juntariam com todos os outros estados, apesar de seus problemas, caso todo o Brasil fosse ameaçado por outro país. Baseado nisso, o maior problema do mundo pode ser nossa maior solução. Quando todos os humanos perceberem que não podem extrair matéria prima para sempre, que a água acabará, que o solo se tornará infértil com uso abusivo, que os peixes morrerão com o lixo jogado aos mares, que nossa energia acabará, assim como nossa comida, e o espaço para nossos restos caso não saibamos como reutilizá-los, talvez se esse problema se tornar tão grande que precise da força e união de todos os seres humanos, possamos nos tornar um só mais uma vez, e recriar uma sociedade que possa ser equilibrada e respeitosa. Talvez tudo o que precisamos seja um grande desafio. Pode ser que seja tarde demais, mas eu ainda tenho esperança, pode ser bobo, mas eu acredito na raça humana.



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